Passarinhos do Meu Quintal

Meu quintal é grande, é um mundo cheio de passarinhos... Uns bem engraçadinhos, outros nem tanto. Tem passarinho chato, passarinho que faz pensar, outros que só fazem raiva.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Saudades de passarinho


Minha bisavó era de uma singeleza comovente, não guardava nada, distribuía tudo entre os montes de netos que ia fazendo pela vida.

Desde criança eu tinha uma admiração por ela e me lembro como se fosse hoje, nas tardes empoeiradas de domingo, ela vindo a cavalo pelo chão batido de vermelho, de longe eu, meus irmãos, primos e toda a criançada da rua toda já saíamos gritando: “A vó do cavalo chegou, a vó do cavalo chegou”, lógico que a gente levava uns petelecos de nossas respectivas mães, que insistiam em explicar que ela era nossa bisavó e não do cavalo, mas não adiantava.

Ela caminhava muito devagar, e parava para cada neto que queria beijar suas mãos e pedir sua benção. Tenho ainda a sensação daquelas mãozinhas enrugadas entre as minhas. Ela andava com um embornal cheio de mimos, brinquedinhos velhos que ela achava por ai e distribuía entre as crianças.

Eu fui crescendo e ela diminuindo. Só adulta é que percebi o quanto ela era pequenina, um metro e meio de pura ternura.

Alguns primos foram crescendo e ficando revoltados porque ela não tava nem ai, todos os dias religiosamente se postava em frente a igreja matriz e pedia “em nome dos netinhos”. O que eles não entendiam é que ela não se prendia a bobagens como laços de sangue, qualquer criança carente virava seu neto.

Lembro que às vezes passava antes do trabalho lá para pedir a benção e conversar um pouco, comprava pão doce e café com leite, e ela ia guardando de lado: “mas vó, a senhora não vai comer?” e ela com voz muito calma “daqui a pouco”. Que nada ela ficava era esperando as crianças, que não demoravam muito iam aparecendo.

Partiu dessa vida como um passarinho, e para a família deixou a melhor das heranças: a lição de como o mundo pode ser doce e a vida simples.
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