Saudades de passarinho
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Minha bisavó era de uma singeleza comovente, não guardava nada, distribuía tudo entre os montes de netos que ia fazendo pela vida.
Desde criança eu tinha uma admiração por ela e me lembro como se fosse hoje, nas tardes empoeiradas de domingo, ela vindo a cavalo pelo chão batido de vermelho, de longe eu, meus irmãos, primos e toda a criançada da rua toda já saíamos gritando: “A vó do cavalo chegou, a vó do cavalo chegou”, lógico que a gente levava uns petelecos de nossas respectivas mães, que insistiam em explicar que ela era nossa bisavó e não do cavalo, mas não adiantava.
Ela caminhava muito devagar, e parava para cada neto que queria beijar suas mãos e pedir sua benção. Tenho ainda a sensação daquelas mãozinhas enrugadas entre as minhas. Ela andava com um embornal cheio de mimos, brinquedinhos velhos que ela achava por ai e distribuía entre as crianças.
Eu fui crescendo e ela diminuindo. Só adulta é que percebi o quanto ela era pequenina, um metro e meio de pura ternura.
Alguns primos foram crescendo e ficando revoltados porque ela não tava nem ai, todos os dias religiosamente se postava em frente a igreja matriz e pedia “em nome dos netinhos”. O que eles não entendiam é que ela não se prendia a bobagens como laços de sangue, qualquer criança carente virava seu neto.
Lembro que às vezes passava antes do trabalho lá para pedir a benção e conversar um pouco, comprava pão doce e café com leite, e ela ia guardando de lado: “mas vó, a senhora não vai comer?” e ela com voz muito calma “daqui a pouco”. Que nada ela ficava era esperando as crianças, que não demoravam muito iam aparecendo.
Partiu dessa vida como um passarinho, e para a família deixou a melhor das heranças: a lição de como o mundo pode ser doce e a vida simples.
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