Mudando de quintal
Meu coração hoje está do tamanho de uma ervilha. Por motivos variados vou ter que mudar de quintal. Sei que mudanças são boas para o crescimento e blá, blá, e que depois eu vou acabar me acostumando e seguindo meu caminho.
O que me dói é que meu quintal tão bonito e cheio de árvores vai ser trocado por outro todo cimentado, sem um pé de erva daninnha sequer. Não posso reclamar, mas me dói saber que quem vem para cá vai derrubar sem dó todas as árvores, vai construir um galpão…
Vai reduzir a cinza as cores desse quintal, silenciar o canto dos passarinhos que também vão ser obrigados a procurar outra casa. Aqui, meu quintal era um dos últimos que tem árvores e árvores frutíferas: ameixeiras, amoreiras, laranjeiras, jaqueiras.
Também os morcegos que habitavam as noites quentes atrás dessas frutas vão ter que encontrar um novo abrigo.
Vou ter que doar quase todos os meus cachorros, eles também não cabem todos na nova casa.
Mas não há de ser nada... não me importa o que diz o pedreiro e outros especialistas, vou marretar todo aquele cimento e começar de novo, vou plantar árvores no espaço pequeno, para que sirva de abrigo para pelo menos um passarinho: meu coração voador.