Passarinhos do Meu Quintal

Meu quintal é grande, é um mundo cheio de passarinhos... Uns bem engraçadinhos, outros nem tanto. Tem passarinho chato, passarinho que faz pensar, outros que só fazem raiva.

sábado, setembro 23, 2006

Mudando de quintal

Ele não é lindo?

Meu coração hoje está do tamanho de uma ervilha. Por motivos variados vou ter que mudar de quintal. Sei que mudanças são boas para o crescimento e blá, blá, e que depois eu vou acabar me acostumando e seguindo meu caminho.

O que me dói é que meu quintal tão bonito e cheio de árvores vai ser trocado por outro todo cimentado, sem um pé de erva daninnha sequer. Não posso reclamar, mas me dói saber que quem vem para cá vai derrubar sem dó todas as árvores, vai construir um galpão…

Vai reduzir a cinza as cores desse quintal, silenciar o canto dos passarinhos que também vão ser obrigados a procurar outra casa. Aqui, meu quintal era um dos últimos que tem árvores e árvores frutíferas: ameixeiras, amoreiras, laranjeiras, jaqueiras.

Também os morcegos que habitavam as noites quentes atrás dessas frutas vão ter que encontrar um novo abrigo.

Vou ter que doar quase todos os meus cachorros, eles também não cabem todos na nova casa.

Mas não há de ser nada... não me importa o que diz o pedreiro e outros especialistas, vou marretar todo aquele cimento e começar de novo, vou plantar árvores no espaço pequeno, para que sirva de abrigo para pelo menos um passarinho: meu coração voador.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Resposta aos meus dois leitores...rsss

Bom gente, fiquei feliz de ver que tenho uma nova leitora, além do querido e assíduo Jan (também estou sempre no seu blog, e até queria te escrever uma coisa, mas é muita coisa mesmo, com calma).

Tentei ver se você Norminha tinha um blog, mas não tem, então postei a resposta aqui na esperança que você leia.

A receita do bálsamo é antiga aqui na minha região, para os problemas que atacam o estômago, o pessoal come uma folhinha por dia, isso mesmo, pega uma folhinha do pé, lava e mastiga devagar. O sabor não é amargo, nem ruim (pelo menos eu não acho, e olha que não sou chegada nem em verduras ou legumes).

Quanto a extração do sumo, Jan, você pode ou espremer ele nos dedos (a folha é meio durinha, então sai pouco) ou socar ele em pilãozinho de madeira(tem que ser madeira) e passa o sumo ou com algodão ou com cotonete, na área afetada.

O bálsamo tem um poder cicatrizante muito bom(passei na sexta e no domingo já estava a pampa).

É isso, meus queridos, e mais uma vez muito obrigada pela visita de vocês.

PS: Não quero ser injusta com outros eventuais leitores (cacau,hernan ou alguém que não se identificou) desse humilde blog, mas quem eu sei que sempre está por aqui é mesmo o Jan...

sexta-feira, setembro 15, 2006

Bálsamo mais de pertinho


Esqueci de dizer que é um santo remédio para o estômago...

Pequenos gestos que emocionam profundamente


Todo mundo passa pelo momento de melancolia aterradora, vez ou outra na vida. Eu confesso que tenho muitos desses momentos de frustração e melancolia, que chegam a doer fisicamente.

Um dos motivos é minha ocupação profissional, trabalho no terceiro setor, em um local que nosso principal objetivo é melhorar a qualidade de vida das pessoas. Isso é bom quando você vê os resultados, mas é um trabalho árduo e repleto de sensações ambíguas, já que por mais que se faça não é possível resolver todos os problemas. É claro que temos consciência disso, mas a frustração vem. Não tem jeito!

Quando vejo o quadro geral do problema, as vitórias se apequenam.

Essa semana é uma dessas em que as vitórias estão parecendo minúsculas, e até por isso bate a “deprê”. Sorte que sou de gêmeos e consigo rir, brincar com os colegas de trabalho e tudo mais, mas quando estou sozinha na sala, ai, ai, ai.

Bom, para encurtar prosa, como eu engulo as tristezas no social, claro, o corpo reclama e começam a aparecer problemas somáticos, a da semana é urticária nervosa (já estou escamando, um horror!)

Aqui trabalha uma senhora que é um amor! Muito gracinha mesmo. Passou uma receita caseira para melhorar, passar o sumo de uma planta que conhecemos como bálsamo. Claro, que eu não tinha em casa e ela ficou de trazer da casa dela.

Hoje de manhã, perguntei se ela trouxe e ela tinha esquecido, normal, sem problemas, fica pra segunda, subi pra minha sala e esqueci o caso.

Na hora do almoço ela liga no ramal e pede para que eu desça um pouco. Não é que ela usou quase todo o horário de almoço dela para procurar nas casas de plantas? Diante dessa semana, quase chorei com o gesto. Ela ainda teve o cuidado de trazer duas mudas para o uso e outra para ser plantada.


Esses gestos que emocionam e alegrem o meu dia me fazem pensar, será que eu também já ajudei alguém hoje?

Sejam felizes....

quinta-feira, setembro 07, 2006

Histórias de família

Começou sua nova etapa da vida, a escola, e no começo ia arrumadinho, de cabelo escovado, roupa passada, e material novo.

Ah! Material escolar, que delicia o cheiro de novidade subindo ao nariz. Para que este material passasse do cheiro ao gosto não demorou muito, e às vezes sem perceber lá estava a mastigar os lápis, depois passou para as borrachas, muito mais agradáveis a degustação.

Um deleite!Ficar ali mastigando a borracha olhando para a janela da classe e enxergando o universo de aventuras, horas e horas, até que a professora percebendo sua distração lhe chamasse a atenção.

Um dia o pai já cansado de comprar novas borrachas e de lhe presentear com imensas surras, fez uma "mágica", transformou a borracha nova em seu corpo. escreveu com letras miúdas seu nome completo. Sim porque queria ter certeza de que a borracha seria ele e não outro Zé qualquer, e depois antes de entregá-la fez um discurso assustador.

- A partir de hoje tudo que você fizer pra borracha, vai tá fazendo prá mim também - e continuou - se perder, eu também me perderei, não vou voltar mais pra casa, se morder estará me mordendo e eu vou sentir tudo, se arrancar um pedaço, então este pedaço será arrancado de mim e vou morrer.

Pegou a borracha com muito medo de que acontecesse qualquer coisa guardou no estojo, e por muito tempo passou a tratá-la com reverências, quase nunca a tirava do estojo, preocupava-se se ela estivesse sentindo frio ou calor, evitava apagar os erros. E seu caderno foi ficando terrível, já era "orelhudo" por natureza, agora estava todo borrado, riscado e sujo. A professora reclamava, mas não adiantava usava a borracha só em último caso.

O tempo foi passando, os problemas aumentando, e começou a usar mais a borracha. Um dia, ao voltar de um devaneio estacou horrorizado, na sua mão jazia a borracha já com as letras meio apagadas, e muito, muito mordida. Engoliu e sentiu o gosto do crime escorrer-lhe pesado pela garganta.

Um desespero tomou conta do seu espírito e já não pode mais ver a aula, não viu mais nada além do tempo que não passava, não passava. Só conseguia ver o rosto do pai, imaginar-lhe as chagas, o sangue.

Com a garganta em nó o intervalo passou por ele, e também o resto da manhã. Só pensava em ir para casa, e o tempo sacana brincava com ele, fingindo ser uma lesma bem pequenininha, que nem sabe andar direito.

Uma infinita saudade de "não-sei-o-que", principiava a invadir-lhe a mente, provocando uma dor profunda, como se de repente uma faca lhe rasgasse de dentro para fora. E nesta inquietação pegou o caminho de volta para casa, que parecia não terminar mais, e sem mais sem menos principiou a correr num desespero alucinado, corria e parecia não mais sentir o corpo, sentia se flutuar pelas ruas, com aquela dor infinita a lhe perseguir. Por mais que corresse ela parecia não deixar lhe a mente.

Finalmente visualizou o portão de casa e aos solavancos abriu e saltou os degraus até a porta. Entrou, olhou e tudo estava lá, nada de anormal havia acontecido, olhou para o pai sentado no sofá assistindo ao jornal, examinou-o demoradamente. Nada parecia estar diferente. Não se conteve mais:
-Pai... -Pai...

-Humm?!!- um gesto conhecido e áspero veio em resposta.

-Cê tá bem? Tá tudo bem?Não tá sentindo.... não pode terminar, o fôlego cobrava as forças usadas na corrida.

E sem ao menos que os olhos o vissem a boca respondeu impaciente: -Ahh! mais...claro que to, agora vai procurar o que fazer que eu quero ver esporte...

Respirou aliviado, e já ia obedecendo, quando uma idéia lhe cortou o cérebro, era mentira, pura mentira, o pai também mentia.

Dias depois, estava fazendo a lição de casa e o pai passando pela mesa da cozinha, de sopetão pegou a borracha, olhou-a mastigada e com um rosto compungido de dor exclamou:
- Eu senti isso, doeu, doeu muito...


Não respondeu, apenas o olhou com ares de "Sei, sei"
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